JUAZEIRO, MY LOVE: UM CANTO ÀS ORIGENS, MISTÉRIOS E TRADIÇÕES DA CIDADE DE 147 ANOS
- Marcelo Damasceno
- 14 de jul.
- 2 min de leitura

🎤 Por Marcelo Damasceno | Rádio Transrio FM – Juazeiro da Bahia
“Enquanto corria barca...” – começa assim, no compasso da memória e da literatura preta de Luiz Galvão, uma travessia pela alma de Juazeiro. Entre as margens do São Francisco e os traços vivos da miscigenação entre índios e negros de Angari, a cidade pulsa em narrativas invisíveis que nos atravessam pelas praças, pelas artes, pelo som do rádio e pelos gritos do futebol.
Como não lembrar de Manuca, esse mambembe essencial que, a olho nu, atravessava a ribalta colorida das ruas, até mergulhar nos mistérios do Museu Regional do São Francisco. E ao lado dele, Juazeiro vai desfiando seus pontos de identidade: Praça do Índio, do Boi, do Jacaré, de São Tiago Maior, da Bandeira e, em sua liturgia histórica, a Praça da Misericórdia.
Nos arquivos da Rádio Juazeiro, as gavetas guardam imagens sobrepostas da cidade – um grande álbum de retratos costurados em preto e branco, como os flashbacks da Arte Foto Paulista. Tudo isso em compasso com a linha férrea, conectando Massaroca a Piranga, e escrevendo em trilhos o tempo do trem.
Rio, Franave e Vapor: a vida fluvial e o eco do Saldanha Marinho
Na beira do rio, onde o apito da Franave e o rumor das águas inventavam sinfonias com o vapor Saldanha Marinho, Juazeiro ensaiava sua própria ópera. Uma cidade navegante, encantada, flutuante.
No Adauto Moraes, palco do futebol de resistência, nomes como Carranca, Quinze de Novembro, Olaria e Veneza erguiam Dozinho, Luiz Pereira e tantos outros ídolos do sertão – todos sonhando com um “VAR” que validasse sua eternidade.
Do teatro à bossa nova: a arte não tem cortina
E que saudade do Teatro de Bebela, com suas cortinas abertas entre Wave e Acabou Chorare, quando a possibilidade de ver João Gilberto tocar bossa nova ao lado de Mônica San Galo e Mauriçola fazia do palco uma oração.
A porta entreaberta da arte também revelava a plástica de Coelhão, o traço livre de Ledo Ivo e uma Juazeiro transcendental: em seus balaústres, nas ruínas do antigo mercado, nos ventos que sopram do Mercado Produtor, da estação inglesa deletada pela pressa do progresso.
Juazeiro de ontem, Juazeiro do amanhã
Carnavais entre Cacumbu e São Francisco, desaguando no Country Club e no Apolo, embalam a alma de uma cidade onde até o trio elétrico é poesia em alto-falante, ecoando a voz estridente de Ivete Sangalo.
Juazeiro, aos 147 anos, se veste de tradição, de povo cafuzo e lusitano, de penitentes e carrancas que “cantam surdas” diante de toda essa dialética do sertão com o mundo.






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