Morre aos 92 anos Niéde Guidon, arqueóloga que revolucionou a história da presença humana nas Américas
- Marcelo Damasceno
- 4 de jun.
- 2 min de leitura

Faleceu na madrugada desta quarta-feira (4), aos 92 anos, a arqueóloga Niéde Guidon, uma das mais importantes e reconhecidas cientistas da história do Brasil. Sua vida foi marcada por descobertas que transformaram o entendimento sobre o povoamento das Américas, colocando o Brasil no centro de um dos maiores debates arqueológicos do mundo.
Niéde dedicou mais de meio século à pesquisa no Parque Nacional da Serra da Capivara, no interior do Piauí, onde liderou escavações que encontraram vestígios humanos com datações superiores a 50 mil anos. Essa tese rompeu com o consenso tradicional de que a ocupação do continente teria começado há cerca de 13 mil anos, provocando controvérsias e debates intensos na comunidade científica internacional.
“Ela não apenas encontrou vestígios de um passado remoto. Ela ressignificou a origem da América com coragem, rigor e paixão”, declarou em nota a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), criada por Niéde em 1986.
Guardiã da Serra da Capivara
Muito além da ciência, Niéde foi também uma ferrenha defensora do patrimônio cultural e ambiental brasileiro. Transformou a região de São Raimundo Nonato (PI) em referência internacional em arqueologia, fundou o Museu do Homem Americano e batalhou incansavelmente por investimentos, proteção e valorização do parque.
Mesmo enfrentando décadas de negligência por parte do Estado, jamais desistiu de seu propósito. Criou programas educativos, capacitou moradores locais e fez da preservação ambiental e da ciência instrumentos de transformação social.
“Niéde viveu para provar que cuidar do passado é uma forma de transformar o futuro”, afirmou o historiador e ex-diretor da Fumdham, André Pessoa.
Um legado eterno
A trajetória de Niéde Guidon inspira não apenas cientistas, mas toda a sociedade brasileira. Sua firmeza, generosidade e visão transformadora deixam um legado imensurável. A Serra da Capivara hoje é Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, símbolo da pré-história americana e do protagonismo feminino na ciência.
Niéde será sepultada em cerimônia reservada. Deixa admiradores, discípulos e uma geração inteira de brasileiros que sonham com um país que reconheça e valorize seus cientistas.
Por: Marcelo Damasceno | Petrolina-PE
Fonte: TV Sudeste Piauiense






Comentários