Opinião: CPI das apostas, silêncio cúmplice e a glamorização do risco no Brasil de 2025
- Marcelo Damasceno
- 14 de mai.
- 2 min de leitura

Por Marcelo Damasceno – Petrolina (PE)
Em pleno 2025, uma das maiores influenciadoras digitais do país, Virgínia Fonseca, senta diante de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a publicidade de casas de apostas, usando um moletom com o rosto da filha e confundindo o microfone com um canudo de copo. A cena, tragicômica para uns, simbólica para outros, viralizou nas redes — mas escancarou um problema muito maior: o silêncio institucional e social diante das vítimas da indústria do jogo digital.
Enquanto isso, milhares de brasileiros endividados, adoecidos ou ludibriados por promessas de lucro fácil permanecem invisíveis, sem assistência do Estado, sem regulação eficaz e, pior, sem voz.
Não é sobre o moletom. É sobre o silêncio
A pergunta que deveria estar no centro do debate não é sobre carisma ou roupa descontraída. É sobre o vazio de políticas públicas, a ausência de responsabilização de quem lucra com o vício alheio e a normalização da publicidade de alto risco social.
Virgínia não é um caso isolado. Ela é um sintoma. O reflexo de uma lógica que premia a influência digital, mesmo quando ela empurra os mais vulneráveis ao abismo. O lucro está blindado pelo alcance, e a ética se perde entre contratos milionários e filtros de Instagram.
Quando marketing vira problema de saúde pública
Influenciadores hoje vendem mais que cosméticos ou sorteios. Vendem ideias, estilos de vida e comportamentos de consumo. Quando essas práticas envolvem casas de apostas, cujo impacto social é comprovadamente devastador — especialmente entre jovens e pessoas de baixa renda —, não se trata mais de publicidade, mas de saúde pública.
Dizer “não entendi” ao ser questionada sobre as consequências da própria influência não é ingenuidade. É deboche. É zombar da dor dos milhares que perderam dinheiro, estabilidade emocional e relações familiares por conta do vício alimentado por anúncios irresponsáveis.
Um país que aplaude o problema
O Brasil de 2025 parece aplaudir esse modelo: celebridades digitais se tornam intocáveis, mesmo quando seus atos têm consequências graves. A CPI das Bets surge como um lampejo de tentativa de responsabilização, mas o risco é que vire apenas mais um espetáculo — se não houver ações concretas.
O problema não é apenas Virgínia. O problema é o Brasil que normaliza, protege e consome esse tipo de influência. Um país onde o lucro vale mais que a ética, e onde o sofrimento dos mais pobres é tratado como colateral aceitável em nome do “engajamento”.






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