OPINIÃO: "Pastores e Política: Entre o Chamado Espiritual e o Poder Temporal"
- Marcelo Damasceno
- 23 de ago.
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Por Marcelo Damasceno
A crescente presença de pastores evangélicos na política brasileira levanta sérias questões sobre os limites entre o ministério espiritual e o exercício do poder terreno. Embora a Bíblia não proíba explicitamente que líderes religiosos atuem politicamente, ela estabelece princípios que alertam contra a mistura indevida dessas esferas. Um exemplo claro está em 2 Crônicas 26, onde o rei Uzias, ao tentar exercer funções sacerdotais, foi punido com lepra por invadir um espaço que não lhe cabia. Esse episódio revela que Deus valoriza a distinção entre autoridade espiritual e política, e que ultrapassar esses limites pode resultar em juízo.
Jesus, por sua vez, jamais buscou poder político. Quando questionado sobre o pagamento de impostos, respondeu: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21), demonstrando que o Reino de Deus não se confunde com os reinos deste mundo. Ele rejeitou qualquer tentativa de ser coroado rei terreno (João 6:15), deixando claro que sua missão era espiritual, não política. O apóstolo Paulo, embora tenha usado sua cidadania romana para se defender (Atos 22:25), nunca buscou cargos públicos, mas sim oportunidades para pregar o evangelho, mesmo diante de autoridades.
Quando um pastor decide entrar na política, corre o risco de comprometer sua neutralidade espiritual, tornando-se parcial e perdendo autoridade moral diante da congregação. A política, por sua natureza, envolve negociações, alianças e concessões que podem entrar em conflito com os valores do evangelho. Em 1 Timóteo 3:2-3, Paulo descreve as qualidades de um líder espiritual: “irrepreensível, sóbrio, prudente, não violento, não ganancioso”. O ambiente político, muitas vezes marcado por corrupção e busca de poder, pode corromper essas virtudes.
Além disso, há o perigo de transformar o púlpito em palanque, misturando interesses da igreja com interesses partidários. Isso fere o princípio de que “ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6:24), pois o pastor que se torna político passa a dividir sua lealdade entre Deus e o Estado. A missão pastoral é cuidar de almas, não disputar votos. Quando essa vocação é desviada, o evangelho perde sua força profética e se torna instrumento de manipulação.
Portanto, embora seja legítimo que cristãos participem da vida pública, o envolvimento direto de pastores na política deve ser visto com cautela e discernimento bíblico. O chamado pastoral exige dedicação exclusiva ao Reino de Deus, e misturá-lo com os interesses terrenos pode resultar em desvio, escândalo e perda de credibilidade. Como está escrito em Romanos 12:2: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. O pastor que se conforma ao sistema político pode acabar se afastando da verdadeira missão que lhe foi confiada.






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