Os Bastidores da História Política de Petrolina: A Contribuição da Família Barracão e os Desdobramentos de um Legado Esquecido

Documentos históricos revelam a influência e as contribuições da família Barracão na formação política e urbana de Petrolina.

A trajetória política de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, é marcada por embates históricos, decisões polêmicas e personagens que moldaram os rumos da cidade. Um desses nomes, muitas vezes ofuscado pelos registros oficiais, é o de João Barracão, prefeito do município entre 1948 e 1952, cuja atuação foi decisiva para a educação e o desenvolvimento urbano local.

João Barracão venceu as eleições contra José Fernandes Coelho, genro do influente Coronel Clementino Coelho, um dos principais líderes políticos da época. Durante seu mandato, Barracão realizou um gesto emblemático: doou ao Governo de Pernambuco praticamente todo o quarteirão onde hoje funciona a tradicional Escola Dom Malan, além da então Escola de Petrolina, desativada posteriormente.

O terreno, de localização nobre, compreendia as áreas entre as Avenidas Cardoso de Sá e Joaquim Nabuco, e as ruas Aristarco Lopes e Pacífico da Luz. Entretanto, o que começou como um patrimônio do povo, ao longo dos anos, passou por um processo de desmembramento sob administrações controladas pela poderosa família Coelho.

Dessa partilha surgiram três ocupações distintas: a Escola Dom Malan, que permaneceu sob controle do Estado; o prédio da antiga Escola de Petrolina, posteriormente alugado ao IF Sertão-PE; e um terceiro imóvel, que foi transferido para a Fundação Nilo Coelho — um movimento até hoje envolto em questionamentos sobre sua legalidade e transparência.

📜 Uma memória que resiste

Apesar de ser peça central na história da cidade, o legado da família Barracão enfrenta, segundo estudiosos e documentos da época, um processo de apagamento histórico. João Barracão, além de prefeito, foi cunhado de Cardoso de Sá, médico e também ex-prefeito de Petrolina, ambos figuras fundamentais na concepção de uma Petrolina moderna e socialmente comprometida.

O legado político da família não parou ali. Antônio Fausto Barracão, filho de João, trilhou seu caminho como deputado estadual e, posteriormente, foi nomeado pelo então governador Miguel Arraes de Alencar como o primeiro prefeito de Afrânio, na época distrito de Petrolina conhecido como Povoado de Inveja. Afrânio, curiosamente, carregava uma tradição de resistência política, sendo uma das poucas localidades que votavam sistematicamente contra o grupo Coelho.

Porém, em plena ditadura militar, Antônio Barracão foi destituído do cargo pelo governador Paulo Guerra, sob fortes indícios de articulação da família Coelho, liderada então por Nilo Coelho, conforme relatos de bastidores.

🏨 Contribuições que marcaram Petrolina

Antes da destituição, quando ainda deputado estadual, Antônio Barracão garantiu um investimento de 3 milhões de cruzeiros, verba que viabilizou a construção do primeiro hotel de Petrolina, que mais tarde se consolidaria como o Hotel do Grande Rio, já inaugurado durante a gestão de Nilo Coelho entre 1967 e 1971.

Esses episódios são apenas parte de uma história mais ampla que envolve disputas, alianças e também tentativas de ocultação de memórias fundamentais para entender a formação sociopolítica de Petrolina.

📢 A urgência de resgatar essa história

Revisitar a trajetória da família Barracão é mais do que um exercício de memória: é um ato de justiça histórica. As novas gerações precisam conhecer os personagens que construíram, com coragem e enfrentamento, a cidade que hoje se orgulha de ser um dos polos mais importantes do Sertão nordestino.

Petrolina precisa eternizar em sua memória a contribuição da família Barracão, não apenas como coadjuvante, mas como protagonista de capítulos decisivos para o desenvolvimento e democratização dos espaços públicos da cidade.

Por Marcelo Damasceno