Separadas por um rio, unidas pela história: o contraste urbano entre Juazeiro e Petrolina
- Marcelo Damasceno
- 6 de jul.
- 2 min de leitura

Cidades irmãs divididas pelo São Francisco revelam desigualdade no acesso a políticas públicas e investimentos federais
Embora divididas apenas pelas águas do rio São Francisco, Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) trilharam caminhos opostos no desenvolvimento urbano e econômico nas últimas décadas. Com o mesmo clima, estrutura produtiva e uma população interligada por vínculos familiares, comerciais e sociais, as duas cidades evidenciam um contraste que chama atenção de quem cruza a ponte Presidente Dutra.
De um lado, Petrolina se consolidou como símbolo de prosperidade no sertão nordestino, atraindo investimentos, consolidando infraestrutura e modernizando sua paisagem urbana. De outro, Juazeiro ainda enfrenta gargalos estruturais, com bairros que carecem de pavimentação, saneamento e expansão de políticas públicas.
Entre 2014 e 2024, a disparidade nos investimentos federais foi gritante: Petrolina recebeu mais de R$ 460 milhões, enquanto Juazeiro contabilizou menos de R$ 90 milhões. Especialistas apontam que a diferença não está apenas na localização geográfica, mas nos bastidores da política.
“Em Pernambuco, grupos políticos tradicionais como a família Coelho garantiram irrigação, loteamentos para agricultura familiar e acesso a programas federais. A Bahia, por sua vez, teve uma atuação mais fragmentada nesse campo, o que afetou o pequeno produtor rural”, explica a pesquisadora Natália, que estuda o desenvolvimento regional do Vale do São Francisco.
Ela acrescenta que as decisões tomadas ainda nos anos 1960 foram determinantes: “Mais agricultores familiares receberam lotes em Petrolina, e mais pessoas conseguiram enriquecer a partir das políticas públicas. Isso transformou a cidade em um polo de referência para o país”.
Duas margens, realidades opostas
A diferença é visível a olho nu. De um lado da ponte, condomínios de luxo e avenidas largas com asfalto bem conservado. Do outro, ruas estreitas, algumas ainda de terra batida, e uma paisagem urbana mais modesta.
“É um contraste visual que impressiona qualquer visitante. Do lado de Petrolina, há uma infraestrutura mais robusta; em Juazeiro, nota-se uma cidade menor em estrutura, com menor valorização imobiliária e serviços mais escassos”, relata Natália.
Apesar das disparidades, as duas cidades seguem interdependentes. Moradores de Juazeiro utilizam com frequência os serviços de saúde, comércio e lazer de Petrolina. Já a força de trabalho e a produção agrícola de Juazeiro continuam movimentando a economia regional.
O que permanece comum às duas margens do São Francisco é a resiliência do povo sertanejo, que, mesmo diante das desigualdades, constrói sua história com trabalho, fé e esperança.
Por Marcelo Damasceno
Comments