Freira brasileira é afastada na Itália após denúncias e diz sofrer perseguição por ser “mulher, bonita e brasileira”
- Marcelo Damasceno
- 14 de mai.
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Por Marcelo Damasceno – Petrolina (PE)
A brasileira Aline Pereira Ghammachi, de 41 anos, natural de Macapá (AP), está no centro de uma polêmica que envolve fé, poder e denúncias dentro da Igreja Católica. Ela foi afastada do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, na Itália, no dia 21 de abril deste ano — a mesma data da morte do papa Francisco — após uma denúncia anônima acusando-a de maus-tratos e desvio de recursos. Aline, no entanto, nega as acusações e afirma ser vítima de perseguição institucional.
Em entrevista concedida na última segunda-feira (12), a freira revelou um episódio de machismo e xenofobia por parte do abade-chefe da ordem, frei Mauro Giuseppe Lepori, que teria afirmado que ela era “bonita demais para ser freira” e que, por ser mulher, brasileira e atraente, ninguém acreditaria em sua versão dos fatos.
“O frei Mauro Lepori disse que se eu fosse ao Vaticano, ninguém iria acreditar em mim, porque eu sou mulher, brasileira, sou bonita e ninguém acredita nesse tipo de pessoa. E isso me feriu muito”, relatou a freira.
Recurso ao mais alto tribunal do Vaticano
Aline informou que permanece na Itália e entrou com recurso no Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, a mais alta instância judicial do Vaticano. Ela garante que sua administração à frente do mosteiro foi comprovadamente regular e aprovada em auditoria feita pela diocese local.
“A questão financeira foi fácil de resolver, porque foi feita uma auditoria no mosteiro pela diocese e demonstrou que toda a administração foi corretamente realizada. Só busco Justiça”, afirmou.
A carta que originou as denúncias havia sido enviada ao papa Francisco ainda em 2023. As acusações envolviam abuso de poder, maus-tratos e irregularidades financeiras. A freira afirma que as contas dos últimos cinco anos de sua gestão foram apresentadas e aceitas sem ressalvas.
Mosteiro em crise após afastamento
A crise, porém, se intensificou após a saída da madre. Cinco religiosas denunciaram violência psicológica praticada pela nova gestora do mosteiro e procuraram a polícia italiana. Ao todo, 11 freiras já deixaram o local desde que Aline Ghammachi foi removida do cargo.
Até o momento, o Vaticano não se pronunciou oficialmente sobre o caso, apesar de ter sido procurado pela imprensa italiana e brasileira.
O que está em jogo?
Este episódio lança luz sobre uma questão sensível dentro da estrutura eclesiástica: a resistência à presença feminina em cargos de liderança, agravada por preconceitos de nacionalidade e aparência física. A fala do abade Lepori expõe uma realidade silenciosa dentro de setores da Igreja: o quanto misoginia e elitismo cultural ainda operam como barreiras invisíveis ao pleno exercício vocacional de mulheres religiosas — especialmente aquelas oriundas do sul global.
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